Como não fazer metas de ano novo

Suzana Valença
4 min readDec 21, 2017

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Imagem: Pixabay https://pixabay.com/en/checklist-check-list-marker-2077023/

Adoro listar o que quero fazer no ano que está chegando. E em dezembro, antes da virada, gosto de revisar o que planejei para o ano que está acabando. O que foi cumprido e o que ficou pelo caminho. Você também?

Com a prática, acho que acumulei alguns aprendizados sobre que tipo de meta funciona e qual é furada total. De posse desse conhecimento, quero deixar meu conselho: não faça planos que você não queira cumprir. Você vai ficar frustrado (a).

“Mas nossa, que óbvio!”, você me diz? Verdade. Mas olha, percebi que existem três metas que todo mundo faz que, no fundo no fundo, não queremos cumprir. Apenas mentimos para nós mesmos todos os anos.

Então vamos lá, como não fazer metas de ano novo:

Não faça metas que não sejam realmente suas (Algumas são só imposições “da sociedade”)

Uns anos atrás eu estava conversando com uma amiga do trabalho sobre um cara que ela tinha conhecido na balada. Logo o papo se transformou em um verdadeiro “planejamento estratégico de guerra para conquistar o carinha”. No meio das maquinações, me ocorreu perguntar a ela: mas você gosta dele?

Se pergunte algo semelhante quando for fazer as metas de ano novo. Eu gosto mesmo disso? Eu quero mesmo isso?

Casar, por exemplo. Não coloque “casar” nas metas. “Casar com fulano”, pode ser. Se você já estiver em um relacionamento com alguém legal e quiser se casar, se organizar para comprar uma casa, aí tá ótimo. Mas não caia na armadilha que a minha amiga caiu. Ela queria namorar por namorar. Porque sim. Porque “é triste ser solteira”, porque “já tenho uma certa idade”, e outras bobagens. Não era uma meta dela. Ela não super gostava do tal cara. Era uma ideia que a sociedade tinha colocado na cabeça dela.

Uma vez entrevistei um médico que disse o seguinte: “toda mulher quer perder dois quilos. Todas! Mas, do ponto de vista da medicina, dois quilos a mais ou a menos não faz diferença na saúde de ninguém”.

Vamos admitir logo que é verdade? Eu quero perder dois quilos. E você também. Mas vamos dizer logo também que o médico está certo? A gente sabe que a diferença é só estética. Tudo bem, nada contra se olhar no espelho e se achar linda, apoio. Mas se a meta de perder uns quilinhos for motivada apenas por causa da roupa, do número na balança, do que outras pessoas acham, nem comece.

Fuja de metas que têm mais a ver como que “a sociedade” acha do que com o que você realmente quer.

Não faça metas querendo apenas o resultado final (Você tem que querer o processo)

Barriga tanquinho? A-do-ra-ria! Mas aí é que está o “porém”. Aprendi que nossas metas têm que envolver o processo e não apenas o ponto final. Se não, a gente não cumpre. Até porque, nem vale a pena mesmo.

Em seu livro, Guia de um Astronauta para Viver Bem na Terra, Chris Hadfield, fala sobre amar o processo. Ele conta que quando começou a estudar para ser astronauta, as chances de ele ser mandado para uma missão eram mínimas. O Canadá, onde ele nasceu, sequer tinha uma agência espacial na época. Mas, parte do treinamento envolvia uma série de atividades físicas que ele adorava. Em um momento do livro, ele narra um dia inteiro que passou submerso em uma piscina vestido em um traje especial, simulando atividades em zero gravidade. Ele se divertiu muito.

Eu queria mostrar meu esmalte lindo e também o livro de Hadfield.

“Como vivemos nossos dias é, claro, como vivemos nossa vida”, disse Annie Dillard. E é isso mesmo. Se Hadfield esperasse para ficar contente apenas quando fosse para o espaço, ele teria tido uma vida muito triste. Mas ele soube ser feliz durante todo o processo que o levou a ser astronauta. Eu gostaria de acordar magicamente com uma barriga tanquinho. Mas eu quero mesmo passar horas na academia e me privar de comer certos alimentos? De jeito nenhum!

A meta tem que ser algo no qual você vai gostar de trabalhar todos os dias.

  • Quer publicar um livro? Tem que gostar de pesquisar e escrever todos os dias.
  • Quer ter um mestrado? Tem que gostar estudar todos os dias.
  • Quer terminar a São Silvestre? Tem que gostar de treinar todos os dias.

Claro que todo mundo pode se esforçar um pouquinho para sair do desempenho médio diário e buscar algo além. Mas se a meta for algo que você vai detestar fazer, não vai rolar.

Eu queria mostra meu caderninho de ideias e também a citação de Annie Dillard (que eu anotei errada)

Não faça metas para se provar para o mundo (Você não é obrigada)

O jornalista (e auto proclamado preguiçoso) Vincent Bevins acha que a produtividade tem seus perigos. Ele argumenta que muito do que falamos sobre sermos produtivos é, na verdade, inútil. É só mais daquele velho culto ao “estar ocupado” que já deveríamos ter deixado para trás.

Então, não faça metas que sejam apenas uma armadilha da “produtividade”. Não faça projetos que sirvam apenas para você mostrar ao mundo o quanto você é ocupado (a) e importante. Claro que todo mundo normal precisa trabalhar para se sentir bem e, claro, pagar as contas. Mas sobre os “super ocupados e produtivos”, Bevins comenta: “eles não precisam de comida. Eles precisam provar algo”. Você não precisa provar nada a ninguém. Feliz 2018!

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